domingo, 17 de agosto de 2008

Custo de Oportunidade no meio Agrícola

Um ponto que chama muito a atenção, sempre que se fala sobre custos agrícolas é a idéia de que todos os insumos devam ser cotados a preço de mercado. Os custos-hora das máquinas, pelo preço do aluguel, a terra, pelo valor do arrendamento; os produtos intermediários como milho que se dá ao gado, pela cotação do mercado, tudo pela premissa de que, se não fosse usado internamente, poderia ser vendido. Essa premissa anula qualquer vantagem competitiva que o agricultor possa acumular pelas suas competências. Em outras palavras, os custos de todos os produtores seria sempre o mesmo, como se não houvesse vantagem alguma em gozar dos avanços tecnológicos e de gestão que a ciência provê. Prova disso é que é voz corrente que a arroba de boi custa R$80,00 no Mato Grosso do Sul, como se todos os produtores tivessem apurado esse número, quando, na verdade, usaram-se planilhas divulgadas em eventos de qualidade discutível como se fossem a expressão da verdade.

Para dar um exemplo muito simples, se partirmos sempre do preço de mercado do milho para compor a ração do gado leiteiro, parecerá que não há diferença entre fornecer silagem de grão úmido ou integral, quando, na verdade, tanto um como outro são colhidos mais cedo que o milho de grão seco, portanto, com custo menor, e o poder energético do de grão úmido é completamente diferente do integral. Ainda no mesmo exemplo, o grão úmido usa colhedeiras idênticas às para grão seco, enquanto o integral usa seifadeiras e o transporte é caríssimo, pois o volume exige frete interno por caminhões. Então, estamos falando de três produtos diferentes, com custos diferentes, milho seco, cilo de grão úmido e cilo integral, o que provocará diferença no custo do leite, do porco, ou mesmo, do cago confinado. Será justamente essa diferença de competênciaas que tornará um produtor um sucesso e outro um fracasso.

Ocorre que a primeira e mais importante condição para que haja custo de oportunidade, é que haja oportunidade. em outras palavras,, não se pode simplesmente abandonar a atividade de confinador porque o preço do milho está alto. Em primeiro lugar, há um estoque de silagem, seja de grão úmido, seja de integral, produtos que não se podem transformar em grão seco, portanto, vendidos ao preço veiculado nas bolsas. Além disso, há os animais que estão em confinamento e não podem simplesmente ser deixados à míngua, precisando ser alimentados até o momento de ir para o abate. Resumindo, se havia oportunidade, ela se extinguiu com a decisão por confinar. Para sair da atividade, serão precisas outras avaliações como estancar a remuneração do capital investido na estrutura do confinamento, o descar4te do gado em engorda com deságio, o estoque de silo e assim por diante.

Resta então apurar os custos reais dos produtos intermediários e medir a margem que o produto final é capaz de proporcionar. É isso o que toda a indústria faz e a profissionalização do meio rural só faz aproximar-se à atividade fabril. Apurar o custo dos produtos intermediários pela cotação de mercado equivale à Volkswagem cotar nas lojas o custo de todos os componentes dos automóveis que fabrica (capôs, para-lamas, rodas etc), acreditando que seu custo equivalha à somatória pura e simples de seus componentes. Se fosse assim, um Gol, por exemplo, custaria mais de R$1.000.000,00 e a própria Volkswagem já o teria tirado de linha.